segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

O bêbado e o assento do mal


Logo no dia seguinte ao meu último post sobre o metrô, mais uma pequena história brota do nada dentro do vagão de metal que range pela nossa famosa Linha Vermelha. Voltando do trabalho já tarde da noite, após muita hora extra (pra variar), consigo o milagre de sentar no metrô e continuo lendo o meu livro, agora com mais conforto. Percebo então que, próximo à mim, há um outro banco vazio onde as pessoas correm pra sentar, mas quando olham o assento mais de perto, desistem.

Estico o pescoço e vejo o motivo da repulsa coletiva: no banco, uma mancha grande, de aspecto viscoso e semi-transparente, espalha-se por quase todo o assento. Brilhando. Já dá pra imaginar o que seria, fala sério... De repente, um bêbado, que havia entrado com todos nós na estação Sé (ou seja: ele não estava ali antes) e que também estava vendo a cena, aproxima-se do grupo de pessoas ao redor do banco maculado e fala à duas moças que estão de pé, ao lado dele:

- "SSSSSH Ôôô! Pode sentá... Isso aí deve ser COLA... mas já tá SECA... SSHHH Quééé vê?"

Em meio à exclamações de nojo dos presentes, o cidadão se aproxima e mete o dedo no assento e... pasmem! Está realmente seco! Incrível, mas a criatura calibrada foi a única que conseguiu perceber que a mancha estava realmente seca, e olha que mesmo quem estava mais perto do banco achou que estava molhado. A cachaça deve ter ampliado o poder da "Visão Além do Alcance" do cara...

Ainda assim, as moças não quiseram sentar. Nisso, do nada, o cara aponta pra mim e fala:

- "SSSSSH Ôôô! Você aí que é ENGENHEIRO, pode confirmar pra elas que tá seco?"

PQP... bom, como dizem por aí, é melhor ouvir merda do que ser surdo... Pelo menos ele me promoveu à uma carreira mais promi$$ora, sem contar que agora estou um pouco mais inteligente, sabendo que uma das funções da Engenharia é atestar se a propriedade de uma substância é sólida ou não... rsrs...

E antes de descer na minha estação, ainda consegui descobrir o porquê daquele estado lastimável no qual o cidadão se encontrava. Em determinado momento da ladainha ele diz pra mim:

- SSHHH... cara... eu sô analista de sistemas...

Acho que isso já explica muita coisa... rsrsrs Sei bem o que esse cara passa em nossa querida área de informática...

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Metrô: mal necessário

Podem falar que virginiano é chato mesmo, não tô nem aí. Pelo menos, eu não me classifico em nenhum dos tipos de cidadão abaixo, que são verdadeiros obstáculos para se ter um convívio diário razoável no já conturbado metrô de São Paulo. Tolerância zero mesmo!

- Zé Cachimbo / Mariazinha Fumaça: se tem um negócio que me deixa puto da vida é aquele povo fumante sem noção (é claro que não dá pra generalizar; existem muitos fumantes que são muito bem educados) que espera sair do vagão do trem do metrô, espera ficar longe dos olhares dos funcionários do metrô espalhados pela plataforma e resolve acender o cigarro exatamente na hora em que mete o pé no início da escada rolante que está descendo. Conclusão: o idiota aqui, que está bem atrás desse(a) joselito(a) na escada rolante, tem que aguardar pacientemente que o meu degrau chegue ao seu destino final tomando baforadas de nicotina na cara, sem poder ir pra frente, nem para trás, nem para o lado, já que a escada rolante está lotada. Será que esse tipo de gente não pode esperar mais 15 segundos pra sair da escada rolante pra depois acender o cigarro, longe das outras pessoas? Ninguém merece.

- Homem Soneca / Mulher Cara-de-Bosta: perdi a conta de quantas pessoas eu já fiz sair dos lugares reservados pra dar lugar a idosos ou gestantes. Você pode observar: quando entra uma pessoa nessas condições e o passageiro sentado mais próximo não oferece o seu lugar, ele terá uma das seguintes reações abaixo:
- Vai fingir que pegou no sono naquele instante;
- Vai medir o idoso ou a gestante dos pés à cabeça e vai virar cara para o lado mais oposto que puder. Ou ainda vai varrer o olhar para as pessoas de pé que estão próximas (a consciência pesa: ela precisa saber se tem alguém que percebeu que ela não vai levantar mesmo);
- Vai começar a fuçar na sacola, na bolsa, na mochila, no celular, enfim, vai se ocupar com qualquer coisa que está nas mãos para tentar disfarçar.

- Garra Metálica: é aquela figura que aparece mesmo quando o trem ainda está parando e nem abriu as portas, colocando as mãos no meio das suas costas para te empurrar na hora de sair, mesmo quando é óbvio que 99% das pessoas que estão ali querem e vão descer na estação Sé.

- Encosto Vivo: surge quando o trem está muito cheio. É claro que é mais fácil o cidadão se escorar em alguém pra não cair do que fazer força para segurar em algum dos suportes do vagão. Também já perdi a conta de quantos figuras caíram quando eu simplesmente me afastei para o lado. Se liga rapá: tô quase quebrando o meu braço pra segurar o meu peso, ainda tenho que aturar encosto?

- Orelha Alienígena: essa raça que gosta de entrar nos transportes públicos ouvindo música do celular em volume alto realmente deve ter uma orelha com um formato totalmente diferente dos demais seres humanos, já que não conseguem usar um mísero fone de ouvido. E pode reparar: quanto mais alto o som, pior o tipo da música. E o elemento ainda faz cara de quem está abafando. Meu amigo: quando você crescer (se é que algum dia seu cérebro lhe dará esse tipo de ordem), vai aprender como é que se agrada um outro ser humano. Seja educado.

- Mochileiro das Galáxias: querido colega de vagão. Alguma vez você já perdeu seu precioso tempo para ouvir o condutor do trem dizer "Leve sua mochila na frente do corpo para não atrapalhar os demais usuários"? Que parte dessa frase complexa você não entendeu? Ah, quer que eu soletre?

- Corredor da Morte: é o que parece quando você vê aquelas pessoas que, mesmo tendo espaço para ficar no corredor, preferem ficar sofrendo na frente das portas. O corredor do vagão é um dos melhores lugares para se ficar, porque além de ser mais fácil para se segurar, ainda fica longe do caos do trânsito das pessoas, que não chega até você.

- Maratonista de Escada Rolante: esse negócio de "deixe a esquerda livre pra circulação" é ridículo! Meu amigo: se você está com pressa e quer subir a escada rolante correndo, suba a escada normal e não atrapalhe quem está sossegado esperando os degraus fazerem o nosso trabalho! E quando duas velhinhas estiverem paradas lado a lado no degrau? Vai ficar bufando atrás delas também? "Cada um tem o seu ritmo", é isso mesmo: o seu ritmo indica que você deve subir pela escada normal, e fim de papo.

E ainda tenho que aguentar pessoas que tem carro reclamar dos congestionamentos que pegam para chegar no trabalho. Tá, eu sei que é horrível perder tanto tempo parado no trânsito, mas prefiro estar sentado, todo cheiroso, ouvindo musiquinha e com a roupa em ordem do que virar sardinha em lata, chegar no trabalho fedendo, amassado e com os braços e pernas moídos de se segurar de pé no metrô lotado durante mais de 1 hora. Se você discorda, convido-o(a) para um alegre passeio no principal trecho da Linha Vermelha do metrô (Corinthians-Itaquera até a Sé), em horário especial, de segunda à sexta-feira. Aprenda: a Linha Verde é um mundo à parte, para inglês ver. Agradeça pelo seu trânsito.

Aliás, este blog será um ótimo canal para publicar as "trocentas" histórias que eu tenho pra contar desses últimos 16 anos de uso do metrô de São Paulo. Aguardem...